domingo, 17 de maio de 2015

Carta a mim mesma aos 13-14 anos


        

Querida Isabella, 

Que forma cliché de começar uma carta, mas a expressão já dá início ao conteúdo sentimental que eu quero te transmitir.
Eu sei bem como você se sente, neste lugar, neste contexto em que você vive. Sei o quanto sofre e o quanto se sente perdida e deslocada. Mas agora eu preciso que você se cure. Eu preciso que você tenha a coragem e a braveza (que eu sei que você tem), de olhar para dentro e tentar enxergar que não importa o lugar, ou a circunstância, se você souber bem o que você foi, o que é e o que quer ser, tudo estará bem. 
Eu também sei da impotência e descredibilidade que você vivencia. É difícil dar-te conselhos agora, por que eu sei que é difícil entendê-los sem ter passado por tudo que a Isabella passou nos últimos anos. E você será tão feliz! E se soubesse disso, também saberia que as pessoas que te machucam agora, estarão em breve longe da sua realidade. 
Ah menina, quanta luz você tem ai dentro, não acredite que você não tem potencial bastante, você tem. Você sempre acreditou nas coisas boas e tem tantos sonhos, mas você precisa por as suas coisas em ordem. E não se torture tanto.
Te olhando de longe agora,- depois de tanto tempo me esquivando, não por negligência, mas por achar que você já estava bem resolvida-, vejo que você se expressou da única forma que achou que seria ouvida. Eu, aliás, você depois de 8 anos, sabe que nem de longe isto resolveria, que gritar, se revoltar, sofrer e se maltratar, não fez com que as pessoas te ouvissem, e quem você mais queria que, além de ouvir, entendesse seu grito, não conseguiu fazê-lo, talvez  justamente por causa desta sua forma de se expressar, mascarando a dor com a revolta -ou talvez unindo as duas-.
Mas veja bem, está tudo bem agora. Você entendeu a sua lição, demoradamente e a duras penas, entretanto, hoje você é uma mulher forte. E se você soubesse disto tudo, com estes anos todos de antecedência, se emocionaria, como eu estou emocionada agora. 
Eu te escrevo por que a minha melhor forma de perdoar e deixar ir é escrevendo. Ainda bem que este bom hábito que você me deu, eu mantive.  
Eu não achei que eu estive tão pendente com meu passado, eu não achei que você precisasse ainda tanto de mim, mas ainda bem que eu olhei para trás e te vi, neste cantinho, chorando por que você queria ser útil e importante, por que a pessoa que você mais amava passou por momentos difíceis  e você não foi capaz de entender que talvez tudo que ela fez foi para te poupar da dor que ela também sentia. Mas está tudo bem agora. Tudo não passou de uma má fase. Você pode se aquietar e se permitir ter um pouco de compaixão por si mesma. 
São tantas coisas para te dizer, mas me atenho a te escrever somente sobre o que você não pode compreender e o resto são só experiências que me trouxeram até aqui.
Você fez bem o seu trabalho, eu vejo agora que você deu o seu melhor, mas eu preciso assumir o controle. Não sinta medo, você está protegida. Eu estou cuidando de nós.
Eu me sinto orgulhosa, por tudo que conseguimos. 
Está tudo bem little brave girl. Eu tenho uma vida pra viver, e não consigo se você ainda estiver sofrendo. Mas sei que já não estará. 

Eu te perdoo, eu te entendo, eu te admiro, eu te respeito e acima de tudo, eu te amo. E te amar, foi pra mim o ato mais corajoso -e doloroso- que já tomei. 
Mas ao te amar e amar o meu passado, eu me amo agora e amo o meu presente. Obrigada por me ensinar sobre essa forma de amor que eu ainda não conhecia.
Você é muito importante! Fica bem.


Sinceramente,

Isabella C. de M. Oliveira   

16/05/2015 - Lisboa, Portugal.